quarta-feira, 24 de abril de 2013

O TERREIRO, O AMOR E A CIDADE



Um tabuleiro de búzios. Fora de campo, a voz de Gatto Larsen esclarece que trata-se de um problema de moradia.  Também fora de campo, a Mãe de Santo saúda todos os orixás, conversa com as divindades e afirma que Iansã estará abrindo seus caminhos: “Não importa o caminho. Não precisa de dinheiro. Vocês vão permanecer nesta Casa.” Eparrei Oyá ! A mesma Iansã que protege Rubens Barbot, desde sua confirmação no terreiro das artes e outras linguagens não verbais(a dança do orixá no candomblé aproxima a linguagem não verbal de sua dança-vida).   Este terreiro é compartilhado e Barbot e Gatto vão construir juntos um espaço de vida e arte num casarão que se encontra à venda no centro da cidade. Mas a cidade para eles é outra.  O centro da cidade é espaço de afeto, poesia, memórias, danças que refletem as crônicas da cidade subterrânea: os operários das obras transtornados pela nova versão da cidade maravilhosa, que expulsa seus próprios moradores;  traficantes, bêbados e puxadores de fumo numa favela carioca (agora ponto turístico, com a “benção” das UPPs); o toque e a dança dos orixás e a coreografia quase surrealista de um dos dançarinos que  mostra um novo “passinho” do funk carioca. Corte para a “vida real”:  conversa com o povo de rua, um diálogo sobre a solidão e a violência urbana, uma idosa solitária (Allan Ribeiro se reencontra com uma das mais divertidas personagens de seu documentário de estréia, Senhoras (2001), em deliciosos papos na Praça da Cruz Vermelha, fronteira emblemática entre a Lapa e a zona norte da cidade).  Há um  estranho sentimento de pertencimento (e  distanciamento) em relação a cidade, que não é a cidade da praia e do carnaval, mostrada à exaustão em grande parte das produções cariocas. É um outro olhar sobre o Rio - Babilônia. Ao acompanhar o cotidiano do casarão onde moram e sua vizinhança com suas ruas vazias, estas duas cidades coexistem. O mesmo Rio de Janeiro, lugar de especulação mundial, às vésperas de Olimpíadas e Copa do Mundo, existe para Gatto & Barbot e companhia como lugar de sonho e resistência.
O processo criativo de Barbot e Gatto (que também assinam a direção de arte) é a invenção de Allan Ribeiro em Esse amor que nos consome, filme raríssimo no recente cinema brasileiro, que escapa de qualquer gênero. Sem ser  documentário nem ficção, a vida e os ensaios de Gatto, Barbot e sua companhia de dança se misturam a diálogos verdadeiros e inventados.  Allan Ribeiro acredita em seus personagens / atores, há um terreno (ou terreiro) comum,  uma confiança, identificação total entre diretor, filme e personagens. 
Entre o desejo de Gatto e Barbot de fazer uma grande montagem de um espetáculo e a dificuldade de um dos integrantes do grupo que necessita trabalhar e ter salário fixo pra ajudar a família...está tudo lá, a dignidade de viver da arte, a construção de um terreiro/casa/afeto, a certeza de um caminho, de estar fazendo “história no terreiro”. A fé na potência da energia da arte: “é a partir desta energia que a gente irradia, instala, impregna as paredes, a vizinhança. É por isso que é meio difícil sair deste lugar,” isso é quase um manifesto! O tal amor que consome. Um dos mais belos longas de estréia de um diretor carioca. Uma metáfora poderosa.
                                                                                                Chico Serra

quarta-feira, 6 de março de 2013

Semana Santa e O Que Teria Acontecido Com Sady Baby? – dois filmes belamente picaretas,por Marcelo Ikeda


Semana Santa e O Que Teria Acontecido Com Sady Baby? – dois filmes belamente picaretas

Entre todos os longas e médias inscritos na Mostra do Filme Livre, dois deles merecem destaque por serem, talvez, os mais radicais. Semana Santa e Sady Baby são dois trabalhos recentes de um grupo de jovens realizadores de Minas Gerais que se distanciam das tradições do cinema poético mineiro e do diálogo com a videoarte exemplificada nos trabalhos do coletivo Teia. Já em Estado de Sítio, longa-metragem realizado coletivamente por oito diretores, esse grupo de realizadores expõe sua estilística cinematográfica como um ataque frontal ao suposto bom gosto das produções fílmicas brasileiras. Busco, então, neste texto, aproximar os dois filmes, que me parecem complementares, realizados, cada um deles por uma dupla de realizadores, auxiliados por outros tantos. Mais que diretores, amigos que compartilham a realização de um trabalho de descoberta, mais do que o resultado final. São filmes imperfeitos, irregulares, mas que respondem a um apelo fundamental para o espírito desta Mostra: a possibilidade de apontar sempre para o inesperado, de criar tensões, de serem filmes sobre a descoberta, de ampliar os limites do que estamos vendo e cobrindo em termos de cinema brasileiro. São dois filmes de realizadores que querem dialogar com uma tradição de um cinema brasileiro imperfeito, resgatando o espírito anárquico e descompromissado dessas produções, como um gesto de afronta aos filmes que buscam o “bom gosto” das convenções estilísticas do cinema contemporâneo ou sua mera inserção num circuito de legitimação, em especial os maiores festivais nacionais e os internacionais.

Semana Santa, de Leo Amaral e Samuel Marotta, apresenta-se a princípio como um filme que possui uma relação ambígua entre os limites do documentário e da ficção, pela forma como a dupla de realizadores se infiltra numa procissão de Semana Santa em uma cidade no interior de Minas Gerais, interagindo com os moradores locais. O filme possui sempre um tom de mistério, acompanhando a peregrinação dos dois realizadores pelas ruas da cidade, entrando aos poucos no tom cerimonioso da procissão. Mas aos poucos, o filme abandona essa postura inicial para assumir um tom nitidamente debochado, como uma crítica frontal, nitidamente caricata, aos rituais eclesiásticos, como espelho de uma crítica mais ampla aos valores das instituições, incluindo, entre elas, é claro, a “instituição-cinema”. Uma ceia é formada com um conjunto de amigos, quase como uma paródia a Viridiana de Buñuel, mas com um tom caricato que nos remete mais à amizade entre os integrantes dessa mesa. É dessa oscilação entre a ternura e a crítica que Semana Santa procura se equilibrar. Após a segunda metade, há uma certa descontinuidade, e surge uma das cenas mais pulsantes do recente cinema mineiro: uma cena na piscina que me lembra, de leve, do clima da famosa cena de Rio Babilônia, embora (infelizmente) mais leve e ingênua. Picardias estudantis. Flamingo brinca, bastante à vontade, com algumas meninas na piscina. Num longo plano-sequência, aqui não há espaço para a dramaturgia narrativa: os personagens brincam de ser, não importa mais se são atores ou personagens, se tudo é encenado para a câmera ou se acontece de fato ali. Ou seja, há uma dobra dos sinais entre o real e o encenado que se apresentam na primeira parte (a procissão) quase ao avesso. Dobra que fica mais do que caracterizada quando, de forma espelhada (invertida) em relação ao início do filme, um personagem anda pelas ruas da cidade. Mas não é mais um personagem (um dos realizadores) e sim um dos moradores da região. Mas que se torna desde já um personagem. E assim em diante.

Já em O Que Teria Acontecido Com Sady Baby?, de Leo Pyrata e Flavio C. von Sperling (“Flamingo”), o discurso vai ser ainda mais radical. O filme se apresenta como um documentário de percurso, em busca do paradeiro do obscuro cineasta brasileiro Sady Baby, que desenvolveu uma certa marca em filmes pornôs na virada para o sexo explícito em meados dos anos oitenta por abordar um universo punk, com personagens depravados e marginais. Filme de cinema, Sady Baby? é um filme-homenagem a um cineasta absolutamente marginal, que fazia cinema para sobreviver, um “cinema belamente picareta”, claramente afastado dos circuitos de legitimação. Essa é justamente a beleza de seu cinema, seu suposto descompromisso, sua paixão em filmar da forma como era possível, pela forma frontal com que o diretor abraçava o universo dos seus personagens sem retoques e sem fantasias, de forma crua.

Leo Pyrata escreveu para a Revista Zingu uma curiosa crítica sobre um dos filmes de Sady Baby, “O Ônibus da Suruba”. Possivelmente essa seja a única crítica já escrita sobre esse filme. Essa crítica já é em si um ato extremamente subversivo, pois Pyrata parece ser o único (um dos raros) que consegue ver a possibilidade de que esse filme “mereça” uma crítica.
“O filme é feio, sujo e forte, principalmente pela distância que se situa das convenções higiênico-eugênicas da fotografia publicitóide de produções contemporâneas como Bruna Surfistinha e outras bundas mais lindas da cidade. Negar a força cinematográfica de Onibus da suruba é como partir em defesa da ditadura do belo, programático, limpo e eficiente e se afinar com as carolas medianas da mercantilização doriana da imagem. Hoje mais que nunca trata-se de um filme belíssimo.” (http://revistazingu.net/2011/06/14/o-onibus-da-suruba/)

Essa crítica deixa bastante clara a admiração de Pyrata pelo realizador, não pelo “bom gosto” de seus filmes, mas exatamente por como o filme afronta as convenções do bom gosto. O que gostaria de destacar é que Pyrata acaba dizendo que “hoje mais que nunca se trata de um filme belíssimo” (itálico meu). É essa noção de “beleza” que me interessa destacar, pois os filmes de Sady Baby a princípio se afastariam de tudo o que possamos considerar como belo. Mas são belos extamente pela forma frontal como veem o cinema acima de todo e qualquer circuito de legitimação. É bela a sua forma de fazer um cinema possível em meio a toda a sua aparente impossibilidade de fazer algo. É belo o seu desejo de simplesmente fazer um cinema visceral, fiel ao seu próprio universo. Um cinema que sobrevive.

Assim, como fazer uma homenagem a Sady Baby? Através de um filme “feio, sujo e forte” nas próprias palavras de Pyrata. Um filme que possa agredir o espectador exatamente pela beleza de suas intenções e pela sua aparente despreocupação em agradar. Os dois diretores fazem assim um filme-picareta, um filme-oportunista. No entanto, não há nada mais doce e terno do que a picaretagem e o oportunismo desse filme. Simulam então um filme que vai em busca do paradeiro de Sady Baby. Montam um projeto e conseguem, toscamente, um financiamento fornecido por Ataídes Braga. Quase como uma paródia de uma coprodução internacional, vão ao Uruguai (aproveitando a seleção de Estado de Sítio no prestigioso festival da Cinemateca Uruguaia) e vão em busca desse filme em processo de ser feito. Andam de táxi, passeiam, visitam a Cinemateca, bebem, vivem, conversam um pouco, visitam um puteiro, andam pelo porto, filmam. Até que o dinheiro, o saco e os cartões de memória acabam. É hora de voltar para casa. Nada mais picareta. Nada mais belo. Uma banana para tudo o mais. Sady Baby não morreu. Viva o bom cinema picareta brasileiro!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Curadoria em processo, continuação...

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Curadoria em processo, continuação...


61. esse amor que nos consome
o centro do rio como um lugar de sonho, criação e afeto. esse amor que nos consome desconstrói o centro do rio de janeiro através da vida e trabalho da  rubens barbot e sua cia de dança. as danças refletem a cidade crônica,  não estamos falando do rio maravilha , do  rio das olimpíadas, nem do rio do eike batista, mas um rio como cidade de memórias e afeto.

a vida e os ensaios se misturam a diálogos verdadeiros e inventados. a crença de ribeiro em seus personagens atores é igual a aquela que eles tem do que fazem. de onde podem ir, de onde estão.

um casarão no centro do rio, em meio a especulação pré-mundial de futebol e olimpíadas. uma outra cidade, maravilhosa e vazia. Gatto e Barbot vivem numa outra cidade, dentro da cidade, mas estas cidades coexistem, entre o sonho de Barbot&Gatto/artista/produtor e a dificuldade de um dos integrantes em pegar um ônibus e passar horas dormindo em pé…mas está tudo lá, a dignidade de viver da arte, a fé e o amor.

a construção da casa como espaço de afeto. a crença de orixás ancestrais africanos. a cidade do ponto de vista do estrangeiro aqui vem com a
sutileza de relação afetiva e amor ao trabalho. a linguagem corporal não verbal retratam uma situação
bem urbana…operários em obra, traficantes e viciados….a cidade louca, barulhenta (o centro da cidade do rio), e a tentativa de um
bem estar, pela confiança numa proteção metafísica, mística, mas tão possível na certeza de um caminho, do domínio do terreiro. da potência da energia criativa da arte.




62. capitao marvel 2  a maldicao de adao negro

trash HQ after effects e algumas piadas(som da hora do brasil como musica tema do herói é hilário)…longa feito na raça.
o final com batman é promissor…mas trash  é um outro departamento na MFL,  a critério de Chris KZL.


63 o que teria acontecido com sad baby

protesto cinebraz. cartelas de abertura já evidenciam a crítica a um estado das coisas. o filme supostamente se anuncia vencedor de diversos prêmios fictícios; um chamado F.O.D.A., cinco "Tyzukas", num "Rally de Cinema Descartável", além de uma "Ferradura de Ouro" e uma menção horrorosa (sic). Inicia com um diálogo ácido sobre o processo de seleção de projetos de cinema no brasil. A crítica radical dos autores está lá: o balcão de favores, as panelas cinematográficas no âmbito das instituições que decidem quais projetos aprovar, o uso das verbas dos filmes…a total falta de ética na distribuição de verbas para os filmes e projetos culturais(por extensão, vide o "axé" que liberaram pra claudia leitte captar, endossado pelo MinC)…

mas o filme (ficção?documentário?) de leo pyrata e flavio c. von sperling é interrompido: "a embrafilme ia  depositar a  2a segunda parcela…não deu notícia…mais um fracasso do cinema brasileiro…"

no mais , é um road movie em busca de um cineasta marginal desaparecido(suicidado pela mídia?). Totalmente filmado no celular ou com câmeras amadoras, com os diretores/atores no elenco e algumas participações incautas, é um bom exemplo de um filme radicalmente livre.


64. até que a vida nos separe
entre ficção e documentário, narra histórias paralelas de amor, amizade, neuras cotidianos e relações de família (mãe obcecada pelo filho que está prestes a casar, esposa ciumenta, descoberta da homossexualidade,etc). mas os diálogos são over, forçam a barra de um pretenso filme espontâneo, naturalista, mas não traz nenhuma novidade. E ainda por cima, é repleto de diálogos reacionários("hoje tem parada gay…estão acabando com a família…"), …embora tenha um final redentor, isso não salva o filme de sua estética novelesca.


65. A chácara do corvo.

A pedido dos produtores do filme, foi retirada do blog a resenha critica do filme em questão.


66. Embu - terra das artes

Documentário meramente informativo sobre espaço cultural-ecológico.


67. Entrei em pânico 1
Citação a vários filmes de terror: Sexta Feira 13, Massacre da Serra Elétrica, Pânico, etc. Processo de edição VHS revelado na montagem/metalinguagem. Sequencia do pintor revoltado é hilária: "Foda-se o Monet!!Foda-se Van Gogh!". Soa como a descoberta de um gênero( trash ). apenas divertido. Mas trash  é um outro departamento na mfl,  a critério de Chris KZL.



68. Ensaio sobre o amor
thriller/suspense. filme de adolescentes. estilo "malhação"(encontros na internet,noitadas). história de uma vingança. sem novidades.

69. Onde nasce a nossa identidade
documentário sobre a cultura, crenças e tradições dos caboclos da região oeste de Santa Catarina. Cultura, raízes, tradições, crenças. O saber filmado como um institucional, sem poesia . O recurso de emendar os temas  através das entrevistas não consegue sair do clichê do doc informativo, burocrático. Filme de "cabeças falantes", que ensaia um protesto a favor  de um grupo "marginalizado", no caso, os caboclos daquela região, mas fica muito restrito aos depoimentos e um certo saudosismo. Deve mesmo ficar no arquivo do IPHAN e servir pra pesquisas antropológicas universitárias.


70. Retrato de uma paisagem
documentário sobre a construção social da urbe. um ator/poeta desocupado sai pelas ruas do centro de fortaleza e pergunta aos transeuntes: "você gosta de seu trabalho?", "você é livre?". as respostas ficam entre a perplexidade e a apatia, mas  algumas destas interações surpreendem…a tentativa de encontrar no meio de uma mega-cidade alguma utopia:"esse lugar tá difícil de achar",comenta um dos entrevistados mais interessantes, um segurança de um prédio. O cotidiano versus a poesia, a trilha sonora final com a canção de Belchior não deixa dúvida sobre a tentativa de desconstrução de uma imagem(uma paisagem?) que o filme provoca:"nordeste é uma ficção."

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

CURADORIA EM PROCESSO, CONTINUAÇÃO


30. flutuantes

Ficção cientifica ou documentário? da gênese ao provável fim de tudo (ou recomeço de um novo mundo) na gargabe island, Flutuantes consegue transitar por terrenos transparentes e complexos que tem a ver com o fluxo das marés e das correntes de ar do planeta (além de outras correntes de pensamento e siderais/interplanetárias). Luiz Bispo & Paulo Paes: personagens/gêmeos na construção de suas engenhosas obras (Casa Flutuante e Fisálias,respectivamente).  Maraberto. Maradentro. Outras possibilidades de viver, fora da "grande gincana" que parece ser o único modo de vida possível para sobreviver. Para estas figuras, existem outras prioridades. Mas o filme não é sobre Bispo ou Paulo, é sobre o fluxo livre de pensamento, de arriscar uma possibilidade de traçar outros caminhos na terra/mar.

Pensamento e ação direta(física). quantidade e qualidade.montagem atonal. nuclear(quantidade na qualidade). Filme Novo. Novas formas. Da caverna caxangueira das montanhas da antiga rua petrópolis para mares do cine mundial transatlântico. Curiosamente o filme vai estrear numa cidade sem mar, no interior de minas. mas se até o balão, que é também oferenda as divindades,  pode e deve se perder no céu ou na terra o que poderá acontecer com flutuantes…

um classico trans/atlântico, sem perigo de naufrágios. mas provavel é que voe com os balões/oferendas para telas de outros mundos.

obs. o filme foi inscrito na mfl 2013 e após sua seleção em tiradentes, seu diretor optou por retirá-lo da mostra este ano. pior pro filme.



31. profissão drag queen

doc institucional sobre o mercado em torno dos shows/performances de drag queens em sp. informativo / didático / não acrescenta nada aos filmes já feitos sobre o tema.


32. cabrabode

ficção trash sobre ser possuído após ingerir testículo de bode. meio mazzaropi meio bruxa de blair, abusa da folclorização caipira na direção de atores/diálogos. trash ? 

33. isabella
reconstituição documental /doc investigativo do caso isabela, criança morta por seus pais em são paulo. fotografias e ilustrações cedidas pela pm cobrem os depoimentos na narrativa, que segue um fluxo de reportagem. fotografias se repetem e torna o discurso da delegada, narrando a trajetória das investigações o único ponto de interesse da narrativa, mas soa um pouco como uma espécie de reportagem do fantástico estendida…no fundo fica uma pergunta: pra que serve um filme como esse?


34. construção
documentário de família, com imagens de arquivo e imagens atuais. trajetória de uma criança viajando entre brasil e cuba, filha de pais separados(?), pela geografia mas unidos pela arte. mescla documentário com uma certa experimentação de formatos(video e película), mas não vai além de um filme processo , uma tentativa de construção de uma historia de vida. uma reflexão sobre pátria e família, arquitetura e afeto. laços de família. o filme acaba se perdendo por tentar abraçar tantos temas, sem falar do didatismo excessivo da primeira parte da narrativa, que acompanha o olhar e as reflexões das crianças e seu diálogo com os adultos.a segunda parte é centrada na separação de uma família, o vazio, a solidão, a desunião. uma reflexão sobre a arquitetura como metáfora da criação de um espaço de afeto. não sei dizer se o filme funciona.

35.a câmera e o close,ele e o céu…
exercício experimental p&b e cores. um yuppie em crise. solidão e a cidade. corta para uma seqüência com chuva e o filme acaba. nonsense demais. vale como exercício.


36. essa maldita vontade de ser pássaro.
bailarina em crise, tentando sobreviver num mundo frio e cordial. a textura granulada e as pontas de filme veladas de super8(ou 16mm) tentam acrescentar um certo tom de experimental, mas não convence, há uma tentativa de dramaturgia calcada no sentimentalismo que beira os clichês mais superficiais(pássaro na gaiola/prisão/vôo do pássaro/liberdade e por aí vai)…o filme no fundo é uma ficção naturalista, com bela direção de arte e fotografia. mas  o experimental se dilui no texto e diálogos fracos. experimental virou clichê? os números musicais burlescos apresentados ao longo da fita até que divertem e servem de contraponto ao drama existencial da protagonista, mas não sustentam os 80 minutos do filme.

37.lucifer
luz e trevas.citações da bíblia(apocalipse).um filme estranho, difícil de decifrar, ensaio audiovisual que vai além de uma religiosidade primária e do teatro do bem e do mal. filme episódico, irregular, mas seria um pecado não mostrá-lo.david lynch e jodorovsky iriam gostar de vê-lo. uma viagem.

 38. steve cicco
pastiche de filme policial americano, com direito a muito clichê e muita tosqueira. sem humor e sem nenhuma invenção.

39. vou rifar meu coração

documentário sobre as raízes da música brega/sertaneja. cantores, compositores e intérpretes da música brega são apresentados em entrevistas que partem de uma intimidade impressionante. brasil interior. casos conjugais, traições, paixões alucinantes. um certo fascínio exagerado da diretora pelo tema tira um pouco o brilho do filme, que não faz mais do colocar em pauta este sub gênero musical, extremamente popular, tosco e sentimental. algumas  seqüências, em especial a cena dos caminhões na estrada noturna, valem o filme.


40. sob luz e sombras
doc observacional sobre fotografo diletante, sua relação com as modelos(divinização,paixão momentânea), e sua relação com seu laboratório, seu material fotográfico e suas fotos (seu tesouro). interessante a proximidade documentarista/personagem. levanta questões interessantes como fotografia e internet, photoshop versus ampliação analógica, em laboratório, fotografia e dinheiro. uma fotografia como afeto, memória. a partir da metade do filme começa a se repetir na fórmula fotografo-encontra-modelos-que-escolhem-as-melhores-fotos. também não acrescenta muito o making of dos ensaios fotográficos. mas ainda assim um documentário acima da média.

41. o veneno da jararaca
institucional sobre questão da biodiversidade/patrimônio genético brasileiro. informativo.1

42. pastinha
filme educativo sobre o mestre da capoeira angola. belas imagens de arquivo e final memorável com uma roda de samba com nelson sargento, mas a narração didática de milton gonçalves e o caráter informativo da obra tornam o trabalho muito burocrático, embora tenha um valor para o estudo da história da capoeira no brasil.2


43. rua dos bobos
uma tentativa de filme kafkiano , em que protagonista entra numa trama aparentemente absurda, e acaba se acostumando ao próprio caos. um filme que acaba não se resolvendo muito bem, entre a proposta e o filme, entre o roteiro e a realização. 2.5


44. caos sem teoria
um filme pretensamente experimental, que cita a teoria do caos e orson weller em seu material de divulgação, mas que tem nas cenas de abertura uma seqüência de tomadas aéreas de paisagens turísticas do rio é de uma contradição difícil  de aceitar. a trama segue sem surpresas e experimentações, tão anunciadas em seu relesse promocional, mas que não são colocadas em prática na forma do filme. as vezes a direção é de novela da record, as vezes tenta uma certa ousadia na montagem, mas não salva o caos do caô.

45. lage dos sonhos
eco video institucional sobre incrível paraíso ecológico no litoral de santos.belas imagens subaquaticas.globo reporter genérico

46. cat effekt
sketches livres em 16mm riscado (na revelação?). um estranho mundo entre o leste europeu e a mente entorpecida de uma misteriosa polaca. estranho.bizarro, embora sem o vigor criativo de Eternau. Vale pelo estranhamento.

47.a visita do rei
o povo do xingu e o saudosismo dos tempos da visita do rei da bélgica, em 1964. partindo deste tema central, das memórias da época da visita do rei e das transformação da aldeia de lá pra cá. nao consegue ser nem filme de protesto nem doc antropológico,e ainda por cima tem o equívoco de usar uma cartela de abertura com a seguinte aberração: "o filme e a autora são apoliticos" .

48. meu pai é figurante

Apesar do DVD não tocar na íntegra, parece ser a nova comédia do verão (assisti o trailer no youtube).  Com Dedé Santana e grande elenco. Mais pra Curta Cinema que pra Mostra do Filme LIvre.


49. pulsações
doc feito em torno da família da diretora, com entrevistas com pais, irmãos e amigos.
um filme de memórias em família. nesse sentido se aproxima de Doméstica, mas se perde no vazio de perguntas banais, respostas
pré-fabricadas...uma tentativa de construção de uma árvore genealógica em audiovisual, mas a não ser por uma certa crítica a uma situação social bizarra(principalmente na entrevista com o casal paulista que anda de carro blindado).

é um filme de memórias esquecivel. daria pra citar dezenas de cenas que podiam ser cortadas pra evitar um constrangimento maior: pai leva uma queda durante entrevista em video-cassetada desnecessária na montagem, mãe (ou avó) reclama com empregada que o suco está ruim durante almoço…e por ai vai…ou seria isso o filme?

o discreto charme da burguesia paulista em auto-retrato quase insuportável em alguns momentos. numa seqüência do filme o pai, entrevistado, pergunta a filha-documentarista:"quando você vai acabar com isso?acaba logo…".



50. a floresta de jonathas
um filme de poesia sutil, rara produção amazônica que não apela para "tradições" folclóricas/ecológicas. o velho e o novo. índio toca guitarra elétrica na alucinação do personagem perdido na floresta (que já lhe pertence). uma gringa e um caboclo em quase love story poética. boa direção de atores, no tom, sem exageiros, sem piadas fáceis. Uma reflexão sobre a presença dos estrangeiros na amazônia (nem sempre biopiratas), e a relação homem-floresta, sem panfletos eco/lobistas. até a participação de um ator bem conhecido (Chico Diaz) consegue ser sutil e inteligente, em poucas falas. Ele é quem  abre a mente do pai, um ogro da floresta, em relação aos filhos e a liberdade. um filme de invenção vindo de um lugar inusitado.



51. só mais um caso
tosco filme de detetive / adultério. detetive galante. mulher sedutora. plano e contraplano. sem novidades. clima de suspense mais que lugar-comum.

52. margaret mee e a flor da lua
Diário de viagens da inglesa Margaret Mee a região amazônica, com objetivo de pintar em aquarela flores exóticas/espécies raras da floresta. apesar da personagem ímpar, a abordagem é de documentário tradicional, com o esquema depoimentos de amigos/especialistas/companheiros de trabalhos, imagens de arquivo, voz em off narrando trechos de seu diário etc. vale para botânicos, biólogos e ecologistas em geral.

53. as horas vulgares
um filme de despedidas e reencontros. da comemoração de um reencontro. desapego e afetos entre-cruzados. uma vida fora da rotina, poética, marginal. um filme de comportamento de uma certa geração sem muitas perspectivas, com muitas mágoas e poucas alegrias, desperdiçadas em noites vazias. uma geração em bad trip.
é interessante notar que os personagens não se enquadram em tipos urbanos facilmente digeríveis. não são profissionais em crise, são artistas buscando algo novo,em que possam se inspirar.
seqüências independentes versam sobre temas diversos: amizade, ciúme, religião, sexualidade.a bela fotografia em preto-e-branco remete aos primeiros trabalhos de Cassavetes e Jim Jarmush.  a montagem segue o som jazzístico em alguns momentos inspirados.


54. doméstica

Partindo do mesmo dispositivo do documentário "Pacific", exibido na Mostra do Filme Livre 2011, o diretor Gabriel Maskaro articula vídeos realizados por 7 adolescentes sobre suas/seus respectivas(os) empregadas(os) domésticas(os) e propõe um olhar contemporâneo sobre o trabalhado doméstico, a relação com a família. O que é um dado aparentemente periférico, acaba se ressaltando, em alguns momentos, e personagens potentes roubam a cena de seus jovens diretores.

Acabe vindo a tona a questão da exploraração do uso da imagem dos seus personagens (vale lembrar, é um filme sobre os empregados feito pelos filhos de seus patrões). A situação "passiva" dos empregadas/os, que são filmadas/os pelos filhos de seus patrões, e muitas vezes flagrados em situações ora cômicas, ora constrangedoras, incomoda. Mas este incômodo interessa ao filme ou seja é um filme sobre classes, feito pela classe dominante.

A desconstrução do empregado como membro da família vem a tona. E toda uma construção de um "lar ideal", ideologia que por obrigação profissional os empregados ajudam a manter… Uma situação ímpar é a da filha de uma empregada que filma a própria empregada.

Outra cena, da empregada dirigindo ao som de música brega, é antológica. Sua aspiração e dignidade em procurar outros ofícios, dentro do lar…

A relação dos personagens com a câmera/uma aparente intimidade com os enquadramentos e a maneira de filmar dos adolescentes é um documentário a parte.


55. desvios diários

Vídeo pílulas quase aleatório que funcionam, segundo seu autor, como vídeos independentes, mas juntos formam um média de 30 minutos. 1. video caseiro filmado na bahia,em 14 de março, 2. os espíritos da floresta vivem em cajamar, video mudo eco-espiritual, 3. outro video caseiro, desta vez situado no rio, narra um passeio ecológico nas paineiras, e é uma tentativa de documentário espontâneo sobre um paulista no rio, contando idéias pra roteiros, maneiras de explorar o foco automático e o zoom digital, entre outras questões, mas fica no meio do caminho, entre o experimento , video caseiro e o doc. 4. uma viola triste e uma despedida. 5. chuva e enterro.homenagem a j.ferreira,critico de invenção, suicidado precocemente.


56. a balada do provisório
primeiro longa de  felipe david rodrigues, lembra algumas produções boca do lixo(especialmente Império do Desejo de Carlão Reinchenbach, mas  também Mulher de Todos, Bandido da Luz Vermelha(Felipe é sganzerliano)…um filme cafajeste contemporâneo numa era de politicamente correto. Helena Ignez e Otavio III homenagenados.  E o cinema da boca do lixo re-filmado no Rio de hoje. Bela fotografia p&b de Daniel Neves.


57. nas minhas mãos nao quero pregos
doc sobre artista e escultor mineiro M.Araújo, gravado a partir de imagens de arquivo inusitadas, com cortes pouco usuais.  de sua natureza religiosa e artística, entrelaçadas, sua personalidade e convicção de isolamento, solidão criativa e desfiliação de qualquer outra corrente artística mineira chamam atenção, mas acaba se tornando por demais didático/informativo.


58. belo monte anuncio de uma guerra
Doc político sobre a situação da construção de Belo Monte e as conseqüências para o município de Altamira, que terá terras inundadas e o aumento da população desordenada, em função das construções. A situação dos índios, que terão que desocupar suas terras é abordada com pertinência neste doc de protesto. Como o vídeo já foi muito difundido na internet e tem uma função específica de mobilização, não acredito entre na grade de programação da mostra livre. Mas é um interessante instrumento político.


59. vertigem branca
Filme cíclico, com seqüências interdependentes. um poeta tocando peças aleatórias em um celo.  um  casal dança tango ao som de bolero eletrônico e um samba/rancho em terrenos baldios. música de Noel Rosa e Francisco Alves assumem um suposto "lugar" dos diálogos ("Você vai se quiser/Toda mulher não se deve obrigar a trabalhar…"). Interlúdios em preto e branco entre o documental e o poético.
Algumas seqüências dialogam com video-arte (seqüência na banheira, morena banhada no leite/água branca), a dança da bailarina
na janela da ruína de uma casa. a repetição da musica do poeta, em seu celo. cinco belas mulheres semi-despidas em festa a fantasia. arquétipo das pombas giras na mente do diretor ou do poeta?
Na maioria dos planos,  dispensa luz artificial e busca locações naturais e lugares desconstruídos pelo tempo. Em off, o personagem/poeta  "busca sua própria ruína…". Fantasmas de mulheres selvagens a sua volta…

60. ouvir o rio: uma escultura sonora de cildo meireles
A experiência de gravar diferentes rios da américa em som direto e transformar num vinil. som / ambiente , um trabalho de pesquisa sonora, uma busca da dimensão espacial/invisível através de diferentes rios no brasil / america latina. a trajetória de um sound designer em busca de matéria prima pro artista.  de um barco próximo as cachoeiras de iguaçú  ao planalto central, passando pela nascente do rio da prata, rio são francisco e pelo surf na pororoca no rio araguari, no amapá. uma reflexão do sentido do som, da identificação do som a uma busca da trajetória dos rios (da nascente a foz)…uma breve reflexão sobre as artes e o público, qual aceitação (pública) de uma obra, uma auto-ironia do artista Cildo Meireles sobre sua própria obra("não foi um sucesso de público como os discos do Roberto Carlos…"). Um processo semântico a partir de um palíndromo "rio-oir", os dois lados do disco de vinil (onde o som editado dos rios e dos risos serão mixados e prensados). reflexões sobre a utilização da água, da energia hidrelétrica, o rio como fonte de energia e sobrevivência perpassam a obra e soam como nuances sociais em torno do documentário.
                                                                                                                                   por Chico Serra

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

"ALICE DIZ:" Por Marcelo Ikeda


ALICE DIZ:

Alice diz: me emociona, pois me parece claro que Beto Rôa faz uma espécie de homenagem a Não Amarás. Talvez para isso me soe a incrível semelhança física entre os protagonistas de ambos os filmes. O taciturno e monossilábico Daniel Confortin é uma espécie de Tomek. No entanto, Daniel não espia sua vizinha do prédio em frente pelo binóculo, mas fala com ela pelo msn. Eles se falam mas não se conhecem. Daniel quer conhecê-la. Ou ainda, eles se conhecem profundamente mas não se veem. Para amar, é preciso ver, tocar. É preciso viver. Até que ponto?

Estreante, decerto Beto Rôa não tem a sabedoria de Kieslowski. Seu filme é por demais sufocado dentro dos aposentos, talvez reflexo da falta de recursos financeiros. Mas por outro lado, a arte e a fotografia são extremamente equilibrados. Diria equilibrado e bem iluminado demais para o espírito do filme.

Esses poréns não tiram alguns dos méritos do filme. Esse enorme desejo e essa dificuldade de dizer “eu te amo”. Alice diz: é uma homenagem ao cinema de Kieslowski sem precisar citá-lo textualmente. Até que caminha para um final preciso, com essa emoção fria, dura e calculada como em todo o filme. Bonito final, em que o silencioso Daniel faz uma prece, realiza um ritual: cultiva a dolorosa necessidade de se despedir de Alice.

CURADORIA EM PROCESSO, por Marcelo Ikeda


A BALADA DO PROVISÓRIO
O filme tem uma proposta bem interessante, de dialogar com um cinema brasileiro popular, ainda que sofisticado. Vê o seu protagonista marginal de uma forma delicada e elegante. Curiosamente elegante. Uma crônica de costumes carioca permeada de "causos". Viver a vida. Por outro lado, o filme poderia ser um pouco mais radical, ou um pouco mais subversivo em como olha esse universo. Parece limpinho e correto demais para o universo que se propõe a olhar.

A CÂMERA E O CLOSE, ELE E O CÉU, VOCÊ O OLHA E ELE ADMIRA O VÉU
O filme possui uma proposta de estudo de linguagem e de decupagem bem interessante e bastante radical. Um filme sobre a solidão do seu protagonista, e que no final assume um contorno estranhíssimo, fugindo do personagem e ficando no espaço, nas árovres, na chuva. Bastante radical. O filme me interessou bastante na proposta de um cinema caseiro, precário, de um personagem em casa lutando contra a solidão. No entanto, em não poucos momentos, parece redundante, tendo uma dificuldade de desenvolvimento. Acaba soando mais como um exercício do que como um filme pronto. Fico aguardando que o diretor prossiga nas suas experimentações com curtas que com certeza trará um trabalho mais maduro nas próximas edições da MFL!!!!!

A FLORESTA DE JONATHAS
Apesar de assumidamente narrativo, o filme possui uma interessante dobra um pouco depois da sua metade, quando o protagonista mergulha na floresta e é "contaminado" pelo seu espírito. Aí, o filme me parece influenciado por coisas do cinema contemporâneo, como Apichatpong e Kawase. Ainda que a primeira metade tenha um ranço narrativo, uma dificuldade de dar ritmo e de nos envolver ocm o espaço e com os personagens, e que na segunda parte o filme tenha alguns cacoetes dessa proposta mais "sensorial", acredito que o filme se encaixa bem na proposta curatorial da MFL, por como apresenta uma Amazônia entre os habitantes e os gringos sem estereótipos desse contato, como a mística local entra na tessitura do próprio filme, e por alguns momentos que mostram o potencial do diretor em nos surpreender.

A VISITA DO REI
O doc tem uma premissa interessante, mas a desonvolve de uma forma excessivamente convencional, tornando-o arrastado, um tanto redundante dada a sua duração, perdendo a sua força. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

AS HORAS VULGARES
Apesar de excessivamente devoto do cinema do Garrel (não premiamos por isso, pois achamos que os artistas devem encontrar seu próprio caminho num sentido edipiano, matando os seus pais para viver a sua própria vida), são muito claros vários méritos do filme, especialmente uma forma humana e delicada em abraçar a fragilidade de seus personagens, e na forma franca e frontal como encena os diálogos e faz os atores interagirem, qualidade rara no cinema brasileiro contemporâneo, em especial os de baixo orçamento.

ATÉ QUE A VIDA NOS SEPARE
O diretor tenta homenagear Fassbinder, mas acaba fazendo um dramalhão bem intencionado aos moldes de uma novela da Record. Ou seja, o oposto do que propunha Fassbinder. Não possui nem o impacto subversivo nem a fina ironia do diretor alemão.

ATRIZES
Muito interessante a proposta do filme. Planos longos, metacinema. Um rigor no camarim; um trabalho com os atores. Achei em alguns momentos os diálogos irregulares lá pelo meio do filme, quando o filme tem uma dificuldade de se sustentar, mas o filme é uma aposta radical, que merece ser valorizada.

BELO MONTE. ANÚNCIO DE UMA GUERRA
o filme é bem interessante, importante e realizado com cuidado. Tem um modelo de financiamento alternativo e criativo bem interessante. Explora uma questão (sobre Belo Monte) extremamente relevante. No entanto, o filme possui uma linguagem jornalística, reduzindo o impacto de sua discussão pelo didatismo do desenvolvimento do tema. Ainda, ele já está disponivel na internet (ótima iniciativa), e já tem um espaço de divulgação através das redes sociais, sendo bem conhecido (há 161mil acessos). Optamos por selecionar filmes menos vistos, que a MFL poderá contribuir mais para a sua difusão.

CAOS SEM TEORIA
o filme tem alguns momentos interessantes e surpreendentes (ex, um cavalo correndo na praia). Mas no final fica a sensação de uma certa superficialidade, e de uma enorme dificuldade narrativa em como o filme apresenta o universo dos seus personagens (o taxista e a mulher). Possui um olhar muito frouxo, pouco rigoroso, que acaba dissipando o que poderia ser de mais interessante no filme.

CARTAS PARA ANGOLA
O filme tem momentos potentes quando se concentra nessas relações afetivas mas quando procura mostrar mais “do que se trata Angola” ele perde seu interesse. Prefiro o que faz Ulrich Kohler em A Doença do Sono, quando mostra a dificuldade do contato do europeu com o africano, e reafirma que a África é um mistério. O filme é delicado mas com o tempo vai diluindo seu interesse, com diálogos um tanto superficiais e escapistas. Exemplo típico é a companhia de arte angolana com dizeres em inglês nas paredes e o conjunto de samba em Campinas que se apresenta num barzinho de classe média alta. Passagens como essa mostram um certo viés do filme no olhar para esses universos, que dilui a potência política desses encontros. Acaba que o filme não gera um desconforto: tudo é bonito, correto, no lugar demais.

CINE HOLLIÚDY
Apesar de a versão curta ter ganhado um prêmio numa versão anterior da MFL, achamos que a versão longa acaba caindo em clichês nos persoanagens nordestinos, soando por demais caricatos. O humor também não funciona, por conta da aposta do diretor num "cearencês" muito carregado que precisa de legendas, dificultando a comunicação com o público. A primeira parte do filme (20min) possui também muita dificuldade de imprimir um ritmo ao filme, afastando o espectador do filme. O melhor momento é de fato a apresentação no cinema, mas achamos que no curta, essa situação se apresentava melhor, seja nas opções de decupagem, seja mesmo em sua realização técnica. O filme possui uma proposta de um cinema de comunicação popular de apelo fácil que dialoga com o ingênuo, possuindo poucos atrativos políticos/subversivos que nos levem a questionar um modo de estar no (olhar o )mundo, que é o principal interesse da curadoria da MFL.

CONSTRUÇÃO
Ficamos na dúvida sobre esse filme. Ele possui claramente méritos, em como apresenta um olhar delicado para o documentário, medidado pelo olhar da própria realizadora, entre seu pai e sua filha. Um documentário não didático. No entanto, o filme acaba não desenvolvendo a contento suas premissas, por uma dificuldade da montagem estabelecer relações entre os dois momentos, entre os dois espaços, entre os dois personagens. Apesar da ótima premissa, sentimos que o filme não alcança voos mais largos em estabelecer uma ponte entre a história individual da realizadora e de sua família com uma proposta mais ampla de cinema (o mundo, a história, etc).

ESSA MALDITA VONTADE DE SER PÁSSARO
Há um certo desejo por uma narrativa mais fluida que tem um certo interesse mas o filme é ingênuo demais na forma como desenvolve suas premissas, tornando-se desinteressante à medida que avança, não conseguindo força nem na narrativa nem nos personagens. Cheio de boas intenções, sua suposta poesia acaba resvalando no clichê. E, por favor, não tem nada de nouvelle vague!!!!

INDUBTÁVEL-REGGAE DOCUMENTO
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em depoimentos e muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

JOIA DE COPACABANA
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em entrevistas com "autoridades" muito quadradas. Muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

LUCIFER
O filme possui méritos que chamaram nossa atenção, pela sua radicalidade, pelo tratamento formal cru, por como o diretor nos envolve num universo mí(s)tico. Um filme singular, com um olhar próprio. No entanto, o seu potencial sinestético e subversivo acaba sendo diluído por uma duração excessiva e pelo pouco rigor da montagem, que prejudica o filme.

MARCAS DAS RUAS 2
Apesar de o tema ser bem interessante e das imagens gravados e depoimentos terem um valor de autenticidade (o tema é exposto de uma forma frontal, direta), é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em depoimentos blocados. Muito no padrão do informativo. Acaba se tornando redundante e repetitivo, pois é blocado em entrevistas/pessoas pichando. O maior mérito do filme é mostrar as pessoas pichando, mas aprofunda pouco, acaba se repetindo. Poderia ser mais criativo em como organiza o material gravado. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!



MARGARET MEE E A FLOR DA LUA
Apesar da relevância do tema e da beleza da realização, com pesquisa bem cuidada e lindas imagens, o filme é formatado de uma forma muito convencional, parecendo um produto para televisão internacional, fugindo dos objetivos dessa curadoria, que são filmes libertários que contestem os padrões estabelecidos. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

NAS MINHAS MÃOS EU NÃO QUERO PREGOS
Apesar de o protagonista ser interessante, e o filme ter uma estratégia interessante de mostrá-lo apenas ao final, seu desenvolvimento é excessivamente centrado em entrevistas que, depois de uns 20min, parecem redundantes, parecendo faltar força e até mesmo material para sustentar a duração do filme, que vai perdendo a sua força, que só volta nos minutos finais. Ficamos com vontade de o filme ficar mais em seu objeto, especialmente na casa, ou no seu processo de criação, mas acaba que o "mistério" de dar a ver seu protagonista se revela mais uma estratégia narrativa do que um princípio ético/estético do filme. Uma pena, pois a MFL gosta bastante dos trabalhos anteriores da diretora, exibidos em outras edições da mostra. Mas esses nos pareceram mais subversivos e criativos esteticamente.

NO FUNDO NEM TUDO É MEMÓRIA
O grande mérito do filme é o belo trabalho com a luz, com um paralelo com o próprio processo de apagamento de uma memória. No entanto, os depoimentos são muito pouco interessantes, e passados 20min de filme, parecem abolutamente redundantes. O que no início parece fruto de um grande rigor formal acaba virando uma camisa-de-força que impede que o filme alcance voos mais altos.

O CABRABODE
Filme trash. Filme realizado de forma grotesca, mas que não usa o grotesco de forma criativa, como forma subversiva de atacar os padrões do "bom gosto" (como alguns filmes de Baiestorff ou Gurcius, entre outros, fazem, por exemplo). Fica parecendo que é grotesco apenas porque o diretor não conhece/domina as regras do "bem feito" e não como opção estética radical assumida como desvio.

OUVIR O RIO : UMA ESCULTURA SONORA DE CILDO MEIRELES
O filme vale mais por testemunhar o incrível processo de trabalho do Cildo Meireles do que propriamente pelo filme. No final ficamos com a sensação de que a diretora perdeu uma enorme oportunidade de fazer um grande filme, mas acabou muito presa a registrar um acontecimento, e não em fazer o espectador mergulhar na essência do trabalho do artista. O filme é conmvencional e tímido demais para buscar se aproximar de um processo tão rico e complexo quanto o trabalho do Cildo. De qualquer forma, o filme tem esse valor de pelo menos nos dar algumas imagens e sons sobre o processo. Mas é pouco em relação á potência da obra do seu objeto. Ficamos em dúvida em exibir, pois seria uma chance de o público conhecer um pouco mais o trabalho do Cildo.

PARA O ALTO
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, não problematizando seu objeto de estudo. Muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

PASTINHA! UMA VIDA PELA CAPOEIRA
Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa, muito centrado em entrevistas com "autoridades" muito quadradas. Muito no padrão do informativo. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

PAU BRASIL
O grande mérito de PAU BRASIL é mostrar como convivem lado a lado no Brasil, especialmente no Nordeste, e especialmente na Bahia, o mais profundo conservadorismo e o mais profundo espírito subversivo. As contradições no corpo, na política, na alma. O problema é que o filme desenvolve isso de maneira que poderia ser mais potente, e se revela muito preocupado com um bom gosto e com um modo de produção correto, que acaba diluindo um pouco o poder subversivo do filme.

PROFISSÃO DRAG QUEEN
O filme não aprofunda a investigação do universo do transformismo, permanecendo superficial. Na forma, apenas uma sucessão de entrevistas pouco interessantes. Apesar de o tema ser livre, é desenvolvido de forma pouco criativa. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

REGGAE NA ESTRADA
Está mais para um programa de TV sobre um personagem - vocalista do Cidade Negra - do que verdadeiramente um documentário. Apesar de o tema ser interessante, é desenvolvido de forma pouco criativa. NÃO EXISTE CINEMA REVOLUCIONÁRIO COM FORMATO REACIONÁRIO!

REPUBLICA
O filme busca desenvolver uma dramaturgia narrativa repleta de personagens e de diálogos, uma coisa em falta no atual cinema independente brasileiro. No entanto, o filme revela um olhar extremamente superficial e caricato sobre a vida dos estudantes e sobre morar junto, o qual recusamos. Está mais para piloto de série de TV.

RUA DOS BOBOS
O média busca um equilíbrio entre o cinema realista e o não-realista, mas não consegue desenvolver seu argumento, pela ingenuidade como a direção lida com os aspectos de linguagem e narrativos, tornando o filme arrastado, redundante e previsível.

TEUS OLHOS MEUS
O filme tem momentos interessantes, pelo despojamento do seu protagonista, pelo desejo de narrativa do filme e pelo final que busca uma reviravolta surpreendente. No entanto, acaba virando um enorme dramalhão, mais próximo de uma novela da Record do que do bom cinema, muito menos de um cinema livre. O filme dilui seu impacto subversivo por uma estética que no fundo é reacionária.

TRUKS
O filme não problematiza seu objeto - o grupo teatral. Apenas, de forma descritiva, conta sua história e seus feitos. Ou seja, está mais para um institucional sobre o grupo do que um documentário. Não se encaixa na proposta da MFL.



VOU RIFAR MEU CORAÇÃO
Gostamos do filme. Sua não seleção acaba sendo mais por critérios políticos do que estéticos. Sentimos que o filme já tem o seu espaço, tendo sido inclusive lançado comercialmente com um público acima de 10mil espectadores, o que, infelizmente, é exceção dentro do cenário comercial brasileiro. Por isso, optamos, dado o limitado espaço da grade de programação, em exibir filmes menos vistos, que o público teria muito mais dificuldade para ter acesso, já que essa é uma aposta muito central da MFL. Embora o filme tenha méritos e nos interesse, e é pouco visto pois o cinema brasileiro em geral é infelizmente pouco visto, acabamos dando prioridade a outros filmes que possuem ainda muito menos possibilidade de serem vistos.



quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

MOSTRA DO FILME LIVRE - CURADORIA EM PROCESSO PARTE 1


1. a lenda da lagoa vermelha II - terror clássico (i.e. decupado classicamente), mas acaba beirando mesmo o trash rural. interessante, mas a passagem "de época"  com aquela historia dos escravos dá uma ralentada no ritmo, que ia bem ate então…terror folk, falc, trash ou naif ? 


2. indubitável reggae documento! - começa muito bem com um blend de imagens de arquivo da cena jamaicana dos anos 70, cenas de filmes importantes como "Rockers" (1977), "The Harder They Come" (1974), além de criadores e gênios totais (Lee Perry), mas a coisa desanda quando a transição para a cena brasileira rola sem um filtro, como se as bandas underground bazucas de ska/skacore/reggae/dub tivessem o mesmo peso que as gringas (jamaicanas e inglesas) que as inspiraram.  Falta uma contextualização da colonização musical jamaicana no Brasil (o doc se restringe a entrevistas com bandas da cena paulista e uma breve retrospectiva dos grupos Rappa e Cidade Negra). Uma breve introdução do nyahbinghi no Brasil. Apesar de um pouco obscuro, filmado de forma meio displicente e com depoimento de apenas um dos integrantes, revela uma tentativa abordagem da ancestralidade musical e cultural jamaicana no Brasil. Funciona como programa de TV punk / udigrudi, pelo despojamento estético. 



3. Alice Diz: - Web drama/pseudo-sci-fi. Jovem yuppie se envolve com uma desconhecida em chat da internet e acabava levando a pior ao descobrir que trata-se de um programa científico, e a tal desconhecida é apenas uma máquina. A dialética da vida real versus mundo virtual não convence por conta do elenco fraco e roteiro pretensioso.


4. Pixoação - documentário manifesto pró pixoação…movimento que mistura rebeldia urbana e arte visual.  numa tentativa de depoimento sobre a "evolução" do grafite, um personagem apela pro grafite "voltar a ilegalidade" , falando também de "integração(???)" e "respeito"…
inclui dezenas de clipes de pixacoes inusitadas e shockantes.
num outro depoimento, uma pixadora afirma que está "representando o seu rolê…" seriam estes seguidores de Bob Cuspe?
documentário que futuramente será documento quase antropológico de um certo tipo social, o pixador da megalópole.

5. inacabado o teatro e a cidade
fórmula de  documentário de curta ou media metragem brasileiro:
1. junte fotos p&b de arquivo de uma referência arquitetônica/personalidade/
fato histórico. 2. procure uma figuraça entrevistável facilmente por câmera quadrada e incauta. 3. selecione para  entrevistas pessoas bem sucedidas política ou culturalmente, que falem português claro e correto e ao fundo escolha obras de arte requintadas, refletores ou se preferir uma biblioteca. 4. peça verba a prefeitura ou governo mais próximo com a justificativa de que seu filme é uma obra de "resgate de memória"  5. leve ao forno pré aquecido por contatos(imediatos ou não) , ou leve  ao banho maria, a escolher. pronto ! agora é só aguardar o resultado do edital…

depoimentos de um semi-institucional sobre a história trágica do teatro inacabado de goiânia.

6. no fundo nem tudo é memória
depoimentos a luz de lamparina e as memórias de um diretor fascinado por seu filme e memórias de moradores de uma cidade perdida repetição nao leva a um interesse maior pois a redundância é constante….no final descobrimos que a cidade existiu e foi inventada, e o diretor tinha um sonho desde criança…


7. republica o filme comedia de costumes sobre universitários q dividem republicas no masculino e feminino.
boas piadas e bons atores. daria um bom programa de verão na tv aberta...

8. teus olhos meus
apesar da misenscene novelesca, é uma espécie de edipo rei GLBT as avessas…vale a pena ver até o final…

9. cartas para angola
filme processo sobre as relações entre brasileiros e angolanos…poético e político ,com alguma invenção em sua fotografia e montagem. através de cartas e vídeos, personagens do brasil e angola dialogam e filosofam sobre o outro lado do atlântico…
independencia e afetos,laços culturais ,  historias de familias e trajetórias pessoais, memórias e amizades se cruzam nestes encontros escritos ou gravados,  possibilitados pelo doc. porém, depoimentos começam a perder fôlego da metade pro final.
mas ainda assim interessante…

10. luzeiro volante a eletricidade é o condutor desta trama sem trama, sem drama e improvisada entre a marginalidade e o medo da morte, entre jesus e o acaso. o filme dentro do filme é um exercício poético, um on the road a pé (cinema de garagem sem garagem) que as vezes transborda o narciso, mas tem belos planos conduzidos com leveza e como diria dellani lima, com momentos iluminados de "baixa dramaturgia…", onde a quase não direção é a direção…

11. marcas das ruas ii - a pixação e sua relação com a cidade. doc tosco que aborda tema interessante e polêmico:"guerrilha artística?",afirma um entrevistado.
acrobacias impressionantes nos prédios de sao paulo. eh um filme radical,mas também,por outro lado, eh quase um institucional sobre a pixação…


12. Cine Holliudy
Produção razoavelmente modesta(com com alguns globais) e voltada para uma certa tradição de humor do Ceará. As aventuras de uma família que tenta sobreviver com um cinema mambembe numa cidade do interior do nordeste, numa época marcada pela chegada da televisão. A precariedade da sala de cinema é compensada pela criatividade do protecionista e dono do cinema Francisgleydisson em narrar a continuação de um filme que é interrompido por problemas no projetor. Cinema, vida e imaginação aqui se misturam.


13. balança mas não cai
uma espécie de edifício master experimental…histórias e memórias de moradores de um antigo edifício em belorizonte que está prestes a ser derrubado,desocupado,reutilizado para outros fins imobiliários/urbanisticos. mas nao existe nenhum filme de protesto, talvez um lamento pela barbárie do estado (e outros poderes,enfim),de subtrair toda uma memória coletiva, ligada aos anos 60(comenta-se da ditadura, de prisões e testemunhos de confrontos entre polícia e manifestantes,no centro de bh). o que significa revitalizaçao imobiliária de uma determinada região da cidade pode significar para alguns uma aniquilação de uma referencia de morada, desconstrução de uma memória afetiva.

as psicodélicas intervenções entre alguns depoimentos saudosos de ex-moradores do edificio e os maneirismo das fusões deixa o filme na fronteira  entre o experimental e o documental. me incomoda os depoimentos em off do diretor, que funciona como uma "explicação" de algo que não precisava ser explicado. A falta de humanismo na relação com os personagens, que estão sempre distantes da câmera, imóveis, tenho a impressão que estão  quase sempre enquadrados como "parte do cenário" do edifício em desconstrução. a memória e os escombros…livre e irregular.


14. atrizes 3.5
um filme de planos seqüência, estruturado na tensão dramática da atriz/metacinema?
longo demais pra curta. vale pela extensão dramática da interpretação e uma leve fantasmagoria.


15. umbanda

documentário quase institucional sobre terreiro de umbanda localizado em itaipuaçu. quase didático, funciona como um guia para iniciantes. como documentário, peca pela tom educativo e com extensas explicações sobre os aspectos da religiosidade e dos rituais. Curioso pela abertura da casa em autorizar a entrada da câmera nas giras e ritos de iniciação.


17. reggae na estrada 2.5
minidoc sobre rãs bernardo,primeiro vocalista do cidade negra e ativista do reggae na baixada fluminense.parece ser uma serie televisiva,mas me agrada bastante,embora não seja um filme livre no sentido formal.

18. A primeira vez do cinema brasileiro.
cine-reportagem sobre o primeiro filme pornô brasileiro:
aventuras e desventuras de um cineasta marginalizado, que tentou a sorte grande na boca do lixo e acaba esquecido e marginalizado,como tantos outros. vale pelas memórias dos técnicos que participaram do filme/marco zero do pornô brasilis.

19. Terra de fé
doc institucional sobre a festa de devoção a nossa senhora do bonsucesso, em mogi das cruzes.
bem realizado tecnicamente mas carece de inventiva na abordagem de um tema já bem rodado, e segue o padrão entrevistas/versão oficial do tema etc e ainda abusa da liturgia católica nas citações e montagens musicais...mas enfim, a diocese é uma dos produtoras então o institucional que mencionei acima se justifica. inclui uma sequencia de folia / congada / marujada com cânticos populares e um dos maiores hits catolicos brazucas; ave maria.

20. Jóia de Copacabana
doc sobre a tal sala de cinema de arte em copa, levanta algumas bandeiras pertinentes relativas a destruição dos cinemas de rua em geral e da dialética do cinema comercial versus o cinema de arte e a internet e os tempos globalizados com a cultura do cinema de rua. merece atenção pela iniciativa, levando em conta a ausência de salas alternativas que exibem filmes fora do padrão roliúdi.num dado momento se torna quase institucional sobre o novo cine jóia, com registros de exibições de filmes e debates.

21. Semana Santa

Montagem paralela da encenação da paixão de cristo na semana santa no interior de minas com um grupo de católicos (um pseudo-arcebispo e seus padres /assessores) em situações surreais a la luis bunuel. uma seqüência musical na piscina é apenas interlúdio pornochanchadistico marginal (homenagem a russ meyer), sem conexão com o discurso rebelde anti-católico do filme, ou talvez como contraponto anarco-sexual a repressão católica. a seqüência final dos fiéis na montanha ao entardecer é uma das mais belas vistas nesta temporada de filmes livres.  filme irregular mas que deixa claro seu deboche a representação e as convenções católicas.


22. o anjo

família feliz de propaganda de margarina em ficção espírita invisível.serio concorrente a melhor invisível do ano. 0.1

23. burro morto - batista virou máquina - trilha visual do disco homônimo, dialética homem versus máquina, sinergia homemaquina, orgasmo industrial visual, trabalho, lazer,sonho, trabalho. filme ou clip? fotografia e direção de arte inspiradas e tavinho teixeira foi ótima opção para  o kafkiano papel de batista.


24. pau brasil
arvore da vida no sertão. o machismo e o anti-machismo do interior nordestino brasilis. a mistica da arvore/entidade como elemento anunciador dos destinos, o caminho e a cura.
a arte entalhada na madeira por um bertrand duarte contrito e genial na sua transexualidade imaginada em sonho. a chave da transição, um manifesto pela doçura do macho em contraponto ao moralismo caboclo bem brasileiro.uma sutil poética feminina transborda neste obra pouco vista do cinema baiano.

25. lacuna
um estudo do tempo. da transição. o filme parte de personagens reais e ficcionais em situações isoladas para construir uma idéia de movimento/busca. uma professora de pilares perde emprego e participa de uma performance violenta de contato e improvisação. um documentarista investiga os escombros de casas a beira de um mar revolto.editor trabalha num vídeo institucional da polícia(?). power trio tenta construir uma unidade musical a partir de sons atonais. a busca de uma harmonia/construção de um filme como uma música improvisada.


26. a porta larga
doc sobre centro que trabalha com detentas que acabaram de dar a luz, feito na base de entrevistas, relatando histórias trágicas e testemunhos emocionados. tem momentos que é bem cansativo.  o filme é todo gravado dentro do centro de detenção…e tem uma sensação de opressão/claustrofobia que eh ate interessante.destaque para cena da dança coletiva do funk "Créeeeeeeu"!.o problema é que a seqüência do momento da apresentação de teatro com as detentas vira teatro filmado e torna o filme longo demais…


27. outro olhar
ficção/ thriller político. um seqüestro de um filho de deputado em campanha é o pretexto da trama que abusa do drama psicológico. usa e abusa também das gírias da favela num contexto de luta armada neo-realista(???)….bons atores mas excesso de clichês atrapalha…há uma tentativa de discurso sobre luta de classes e uma critica a corrupção nas campanhas politicas. irregular.




28. Em busca de um lugar comum
desvela engrenagens e diferentes possibilidades do mercado de turismo nas favelas, entre o ponto de vista do turista e o dos
guias de turismo, que levam os grupos para diferentes favelas do rio, em contextos e situações sociais distintas . Entre os longos passeios pelas vielas e becos das favelas e "slide shows" de fotografias de turistas em favelas e pontos turísticos mundiais, lugares-comum de uma filosofia do turismo,  revela uma exploração de uma situação social miserável e ao mesmo tempo a  possibilidade do potencial econômico  deste ramo (alinhadas a um projeto da instalação de postos de polícia  pacificadora nas favelas). Os contrastes entre as favelas "maquiadas" em contextos de olimpíadas e copa do mundo revelam tambem a visão critica de alguns guias mais antenados com a situação local, "Behind the scene, the favela is still the same", fala um dos personagens, levando turistas para a Rocinha. a seqüência da visita de inspeção de turismo na cidade de deus é bizarra.


29. tava a casa de pedra
video nas aldeias. investiga a trajetória guarani a partir da participação na construção dos templos na época das 'colônias jesuítas'. a lembrança do processo da igreja católica em tentar persuadir os guarani com sua crença única a despeito dos mitos e crenças próprias dos guarani eh um ponto tratado com atenção neste manifesto guarani contemporâneo.



Por Chico Serra